quarta-feira, 27 de abril de 2011

Serra do Feiticeiro tem mistérios e riquezas

Divulgação
Ela é misteriosa, imponente, e esconde riquezas ainda inexploradas. Refiro-me a Serra do Feiticeiro no município de Lajes. Uma importante reserva natural da caatinga potiguar. Notável formação geológica com cerca de 400 metros de altitude e mais de 12 Quilômetros de extensão que se esparrama ao longo do Sertão Central. Essa montanha emblemática vem despertando o interesse de estudantes e profissionais, como grande potencial capaz de gerar emprego e renda através do turismo sustentável.
No início de Dezembro reuni alguns colegas do curso de Comunicação Social e fomos subir a serra. Conosco, alguns equipamentos de áudio e vídeo. Tínhamos em mente gravar um documentário sobre o ambiente do lugar. Enveredamos montanha acima ao cair da tarde quando os raios do sol atingiam os seus paredões rochosos, refletindo tons e cores de pigmentos minerais que se encontram infestados nas rochas. Algo muito bonito que mereceu a nossa observação. Tivemos a oportunidade de contemplar o crepúsculo do alto da Serra. Particularmente pra mim, foi como contemplar o mar. Um espetáculo que deixou a todos absortos diante de tamanha beleza natural.
À noite, montamos acampamento bem no alto, onde os sertanejos chamam de “chã” da serra. O pernoite no local nos permitiu admirar o imenso cosmos cobrindo o sertão de Lajes. De cima da montanha, a sensação que se tem é de que o céu fica mais próximo de nós, de que podemos tocar as estrelas. Algo que nos possibilitou alguns instantes de reflexão sobre nossas vidas e a grandeza de Deus.
Diz à lenda que há muitos anos, no início da colonização, habitou a serra um índio solitário. Um xamã (curador), de uma tribo descendente dos Tapuias que existia na região. Com o avanço da colonização portuguesa pelo interior do Rio Grande do Norte, as tribos iam sendo dizimadas. Os que conseguiam escapar do massacre dos europeus, se escondiam nas serras e encostas protegidas por matas fechadas e de difícil acesso. Para não ser morto, o velho índio se escondeu na cordilheira serrana que se estendia pela região central do Estado. Desde então a misteriosa serra passou a ser o refúgio daquele índio solitário. Lá, ele conviveu pacificamente com os colonos da região. Profundo conhecedor das plantas nativas e da “medicina” indígena, o velho xamã era um alquimista. Com suas porções, incensos e rituais, ele curava os animais dos rebanhos que pertenciam aos criadores da região. Ainda de acordo com essa lenda, além dos animais, o velho índio da serra passou também a curar as pessoas. Fato que o notabilizou como o Feiticeiro da serra. Daí o nome; Serra do Feiticeiro
Outro fato marcante que ocorreu por lá, foi em 1903;Uma criança por nome de José Alexandrino, de apenas cinco anos, acompanhava a mãe quando pastoreava cabras pelas redondezas da serra. Ao entardecer, a criança se perdeu de sua genitora. Após 03 dias de buscas, o corpo do menino foi encontrado em estado de putrefação, deitado sob uma pedra. Havia morrido de sede e fome. Os moradores de Lajes e região reverenciaram o local como solo sagrado. Anos depois, a população construiu uma capela bem próxima à área onde o garotinho morreu. Os religiosos fincaram um cruzeiro que recebeu a denominação de “Divina Santa cruz”. Todos os anos, fiéis faz romarias sempre a cada dia 03 de Maio, data em que o corpo do menino foi achado. Apesar de a romaria já está incorporada ao folclore religioso do município de Lajes, e dos vários relatos de curas obtidas, a igreja católica não inseriu o evento ao seu calendário religioso.
A Serra do Feiticeiro é assim, povoada de lendas e mistérios. De certo modo, parece que ela tem um magnetismo próprio que exerce atração direta nas pessoas que a visitam, mesmo que seja pela primeira vez. O misticismo e a religiosidade estão intrinsecamente ligados à história do lugar.
Após visitação à capela, fomos até outro ponto no mínimo intrigante: um grande espaço aberto em forma de círculo no meio da vegetação, localizado acima do paredão mais alto da montanha seria um vestígio de que naves extraterrestres (Discos voadores), já pousaram no local. Moradores mais antigos da região relatam que há décadas passadas, era visto constantemente um clarão que se projetava do alto, na mesma direção onde se encontra a forma geométrica arredondada. Até hoje ninguém sabe dizer ao certo do que se tratava. Esse é mais um enigma que envolve a áurea misteriosa da serra do Feiticeiro.
Os discos voadores estão no campo das especulações e das hipóteses. De palpável e concreto mesmo, são as minas e galerias que se encontram abertas na montanha. Elas foram feitas por uma mineradora que retirou calcário e xelita da área, há décadas atrás. A mineração acabou, mas os registros da exploração ficaram pelo caminho. Na subida da serra, um enorme galpão encontra-se abandonado. A estrutura, hoje obsoleta, bem que poderia ser utilizada como ponto de apoio para os visitantes.
Saímos da Mina e subimos um pouco mais. Bem próximo ao cume, existe uma verdadeira dádiva da natureza; o chamado “olho dágua”. As águas que caem das chuvas ficam armazenadas em um tanque natural revestido de rochas com uma fenda por onde se retira o precioso líquido. Ele serve para matar a sede de quem passa pelo local, principalmente caçadores.
Mas o bom mesmo no alto da Serra do Feiticeiro, além da vista panorâmica, são as excelentes condições dos ventos. Tanto é que já foi aprovado um projeto em nível Federal para que a Serra seja contemplada com um parque gerador de energia eólica. O parque deverá ser instalado nos próximos anos.
Esses mesmos ventos que trarão a energia, também vão propiciar a prática do vôo livre. Representantes do Clube potiguar de vôo Livre mostraram interesse pela área. Para 2009 deve ser instalada uma rampa para saltos de Asa Delta e Parapente, partindo do platô da Serra. Além do vôo livre, outros esportes radicais como; rapel, tracking, escalada, trilhas e arvorismo, podem muito bem ser explorados em toda a sua extensão.
A Serra ainda guarda próximo às suas imediações, dois sítios arqueológicos, riquíssimos em gravuras rupestres. Os sítios estão localizados nas fazendas Santa Rosa e Trincheiras. Por lá, ainda gravamos na “Casa de pedra”. Uma formação natural bastante ampla. Segundo os mais antigos do lugar, teria servido de morada para o Feiticeiro da serra.
A flora local é típica do bioma caatinga. Ainda se apresenta bem conservada. No entanto, a caça predatória é indiscriminada. Animais como; Pebas, preás, veados e um grande número de pássaros da fauna nativa, estão desaparecendo.
Depois de tudo o que vi e registrei em imagens e depoimentos desbravando a Serra do Feiticeiro, cheguei à conclusão de que já se faz necessário um projeto para tornar a região apta à prática do turismo sustentável. É preciso urgentemente que os nossos governantes tracem metas, criem condições de visitação do local e projetem a reserva na mídia do Estado como um dos mais novos destinos turísticos do Rio Grande do Norte.
Bom! A nossa aventura pela serra do Feiticeiro, por enquanto termina aqui. Agora tenho muitas imagens para editar e um documentário para produzir. De resto, espero ter contribuído para alguma coisa.
Concluo com uma frase para nossa reflexão: “Caminhantes! Não existe caminho, o caminho e faz ao caminhar”. (Che Guevara).
Tárcio Araújo
Postado por Francinete Torres- Geógrafica

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